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quarta-feira, 16 de julho de 2008

Desconstruindo o barril do petróleo por Mauro Kahn

Fonte: Clubedopetróleo.com.br

Na última quinta-feira, dia 03 de julho, o barril de petróleo bateu novo recorde de preço ao marcar US$ 145,00 na cidade de Nova York. Embora impressionante, este aumento não é de forma alguma inexplicável. Neste artigo, procuro elucidar um pouco a questão a partir da decomposição do preço do barril – que já saltou de US$ 30,00 em 2003 para US$144,00 em 2008 – em cada um de seus fatores.

Classifiquei as razões por uma suposta ordem de importância, observada da seguinte maneira:

1. Especulação financeira

2. Desvalorização do Dólar

3. Consumo elevado

4. Questões de geopolítica

5.Queda das reservas

6.Subsídio aos derivados

A primeira questão envolve os investidores, que vêm jogando apostas extremamente altas no mercado. Assim como na bolsa de valores, onde uma ação pode estar cotada por números muito superiores a seu valor patrimonial, no setor do petróleo a cotação do barril também salta com o movimento especulativo. Partindo da opinião consensual de especialistas, podemos projetar que a especulação, por si só, corresponde a cerca de 20% do preço do barril (e a tendência é que este percentual aumente). Sem ela, é provável que a cotação nem mesmo passasse dos US$ 110,00.

Levando em conta que o barril estava fixado em US$ 30,00 no ano de 2003 – e considerando que o dólar se desvalorizou significativamente (somente o Real já valorizou aproximadamente 45% de lá para cá) – o preço de US$ 110,00, sem especulação, cai para algo em torno de US$ 75,00.

A desvalorização do dólar, aliás - especialmente frente ao Euro - é outro fator que pesa bastante sobre o preço do barril. A crise no setor imobiliário americano, somada ao desgaste do governo e da economia americana, consolidou a força da moeda européia e levou investidores a moverem-se em direção a moedas de países emergentes, enfraquecendo ainda mais o dólar.

Em relação à explosão do consumo, impulsionada por países em desenvolvimento como China e Índia, temos um aumento concreto de cerca de 15% (aproximadamente) desde o ano 2000. Refrear esse crescimento é uma medida improvável, embora existam formas de amenizá-lo. A mais evidente, conquanto indesejável, seria o aumento radical no preço dos derivados. Creio que apenas o acaso de uma grande recessão econômica pudesse surtir o mesmo efeito de maneira contundente.

A questão dos conflitos políticos é um aspecto sempre presente e marcante quando se trata de valores relacionados ao petróleo. O mero temor por uma guerra envolvendo países como, por exemplo, o Irã, já é por si só suficiente para criar uma certa instabilidade. O próprio governo americano vem tentando amenizar a questão Irã/Israel, temendo certamente uma escalada ainda maior das cotações. Outra atual medida política americana é a abertura do Iraque para diferentes "players". Tal fato deverá aumentar a produção de petróleo e ajudar a derrubar as cotações, uma vez que o país apresenta o melhor R/P (reservas/produção) do planeta. Em termos de causas imediatas, merece ser citada a crise no Delta do Níger, onde uma plataforma da Shell foi atacada no mês de junho por um grupo separatista.

O declínio de reservas é outro fator que tem desregulado os marcadores econômicos. Recentes e inesperadas quedas nos estoques estratégicos dos EUA causaram um aumento de preço significativo nos últimos meses, e outros problemas de escassez – como o declínio das reservas do Mar do Norte – vem ao longo dos anos colaborando para elevar as cotações. Problemas de ordem natural, como estações frias em excesso ou até mesmo desastres pontuais como furacões, também acarretam em uma larga e imprevisível redução da produção e aumento do consumo.

É importante reforçar que boa parte da pressão exercida sobre o preço do petróleo - tanto pela explosão do consumo quanto através do declínio das reservas - se deve exclusivamente a previsões elaboradas com alta margem de erro. Por estimativa própria, creio que somente estas consistam em quase 10% do aumento na cotação do barril. Uma cautela talvez excessiva, pois não se está levando em consideração preciosas descobertas na América da Sul e na África.

Finalmente, os subsídios aos derivados constituem o fator mais maleável, pois podem ser reduzidos ou até mesmo encerrados em caso de interesse dos governos. Qualquer uma das duas medidas medidas poderia jogar o preço dos derivados para cima - o que desistimularia o consumo - mas por outro lado traria consigo um grande risco de contaminação da economia e potencialização da inflação mundial. Por ora, EUA e China ainda continuam a subsidiar - apesar de reajustes no preço da gasolina de 20% e 17%, respectivamente. Adotando uma postura mais prudente, países europeus (não produtores) vêm ampliando seus reajustes (a Itália, por exemplo, já reajustou em 31%).

Embora as projeções futuras não sejam otimistas (prevê-se um barril a US$ 170,00 em setembro), é importante ressaltar que toda previsão pode e deve ser usada como maneira de interferir e transformar a realidade. Cabe aos governos, economistas e integrantes da Indústria debater, rebater e agir sobre os dados. A reflexão é fundamental e as possibilidades estão em aberto.

Mauro Kahn é especialista em geopolítica do petróleo e geopolítica ambiental, assim como fundador do Clube do Petróleo www.clubedopetroleo.com.br

1 comentários:

Anônimo,  4 de outubro de 2008 às 03:24  

Como vocês que só fazem isto podem ser tão incompetentes nas suas previsões.
Elio Decimo Jr

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