Consumo ameaça a auto-suficiência
Fonte: Estadão.com.br
Conquistada em abril de 2006, a auto-suficiência na produção de petróleo corre o risco de sucumbir ao crescimento do consumo de combustíveis no País. Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o Brasil importou mais petróleo e derivados do que exportou nos quatro primeiros meses deste ano. O País nunca deixou de comprar óleos mais leves, mas o atual ritmo das importações já leva a área energética do governo a admitir que vai fechar o ano com déficit.
No último ano, o consumo de combustíveis cresceu 5,8%, mais que o dobro dos 2,4% projetados pela Petrobrás no ano da "independência", segundo o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na festa da conquista. Já houve meses, nos últimos dois anos, em que o País comprou mais do que vendeu. Mas a diferença se acentuou nos primeiros quatro meses de 2008.
O Brasil comprou, entre janeiro e abril, 22,5 milhões de barris de petróleo e derivados a mais do que vendeu, o que resulta num déficit médio de 185 mil barris por dia. Trata-se da primeira vez, nos últimos dois anos, que o déficit se estende por tanto tempo. Em 2006, o saldo ficou positivo em 57 mil barris por dia. Em 2007, caiu para 13 mil barris. Na época, o Brasil comprava apenas petróleo leve para produzir. No último ano, porém, a demanda do combustível cresceu 10%.
"Estamos no limiar entre oferta e demanda", diz o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, admitindo que o déficit pode se estender até o fim do ano. A produção nacional cresceu apenas 1,27% em 2007, ritmo que se mantém neste ano: nos primeiros quatro meses, a produção cresceu 1,58% ante a média de 2007. Especialistas apontam o atraso na entrada de novas plataformas como a principal razão para a reversão de expectativas.
No plano de negócios divulgado em 2006, a Petrobrás previa a manutenção da auto-suficiência nos 10 anos seguintes à conquista. Na época, as projeções indicavam que o Brasil produziria uma média de 2,1 milhões de barris por dia em 2008, ante um consumo de 1,921 milhão. No início do ano, porém, a empresa reviu a meta deste ano para 1,95 milhão de barris. O consumo, por sua vez, está crescendo a taxas mais altas que os 2,4% anuais projetados pela companhia.
A estatal diz que reduzirá o déficit no segundo semestre, com a operação de cinco novas plataformas com capacidade para produzir 180 mil barris por dia. O problema é que há hoje grande ceticismo no mercado com relação ao cumprimento dos cronogramas. Incluídas na lista de novos projetos, a P-51 e a P-53, por exemplo, devem iniciar as operações com atraso de um ano. Em relatório divulgado na sexta-feira, a corretora Ativa demonstrou frustração com mais um resultado ruim da estatal: crescimento de 0,7% na produção em junho, ante o mês anterior.
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